Obras Biográficas
Esta página narra a notável trajetória de superação de Marcos Anthony, cujas pinceladas vibrantes transformam cores em vida. Desde cedo, o amor e o cuidado de seus pais, aliados a uma educação de qualidade, foram essenciais para que ele superasse suas limitações, tornando-se o filho amoroso e o grande artista que hoje admiramos. Suas obras, repletas de força e vibração, são narrativas visuais que transcendem o silêncio. Com um currículo de exposições em renomados museus no Brasil e no exterior, Marcos Anthony prepara suas próximas mostras para o futuro próximo como no Museu das Minas e do Metal GERDAU, em Belo Horizonte/MG.
"Onde tudo começou..."
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 0,35 x 0,25m
Ano: 1983
Onde tudo começou… Corria o ano de 1983, há mais de quarenta anos. Ali nascia a primeira de muitas obras que, com o tempo, haveriam de emocionar o mundo com as cores das minhas pinceladas. Foi o marco de uma história: a de Marcos Anthony. O instante em que a chama da arte se acendeu em mim e ganhou dimensão nas telas.
Recordo-me como se fosse agora: mamãe e papai me perguntaram se eu gostaria de entrar nas aulas de pintura. Antes mesmo que as palavras cessassem, meu coração já dizia “sim”. Mas era preciso comprar os materiais — e minha ansiedade corria mais depressa que o tempo. Como em Timóteo ainda não se encontravam tais recursos, pedimos à Tia Léscia que os trouxesse de Belo Horizonte. Cada dia de espera parecia uma eternidade.
Enfim, chegou o grande momento: a primeira aula com o professor Josias Moreira. Meus olhos brilhavam como janelas abertas para um novo universo. Mal podia esperar suas instruções — já me adiantava, pincel na mão, como se a tela me chamasse com urgência. Iniciei pintando flores. Deveria começar pelo fundo, depois avançar aos detalhes. Mas a fome de aprender me fez inverter a ordem: contornei flores, folhas e caules com pinceladas marcantes, revelando mais desejo que método, mais impulso que técnica.
Era como se dentro de mim houvesse um rio represado, que naquele instante transbordava em cores. Não era apenas o início de uma lição: era o nascimento de um destino.
Arlequim
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
A deficiência auditiva foi descoberta aos 22 meses de vida. Meus pais me levaram para São Paulo, onde tive as melhores orientações e tratamentos para o desenvolvimento da minha fala. Colocaram-me, sozinho, dentro de uma cabine, onde só via vários furos (caracterizados pelas bolinhas coloridas ao redor da obra) nas paredes de Eucatex, e através desse exame, audiometria, fui diagnosticado como portador profunda neurossensorial bilateral. Naquela época, foi uma grande surpresa para os meus pais. Embora entristecidos por imaginar toda a trajetória, com as limitações que eu teria que enfrentar. Mas o amor sempre falou mais alto do que o silêncio que me foi condicionado. Tenho lembranças dos melhores presentes da infância, entre eles, o que mais me marcou, foi uma marionete (nomeado de Arlequim), que mamãe comprou. Quando voltei para casa, em Timóteo, mamãe fez uma grande e bela festa, comemorando meus dois anos de vida e minha nova fase com o meu primeiro aparelho auditivo. O tema da festa, por ser em junho, foi "Festa Junina".
Dr. Marquinhos
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
Mamãe contava que, durante toda a gravidez, havia um ritual sagrado em nossa casa. Todos os dias, quando papai voltava do hospital, pousava a mão sobre a barriga dela e conversava comigo, chamando-me, com carinho, de “Marquinhos”. Não havia ultrassom, mas havia certeza: em seu coração, ele já sabia que eu era um menino.
Pelos corredores do hospital, anunciava com orgulho: “Em breve, meu filho Marquinhos nascerá”. E assim, antes mesmo de vir ao mundo, eu já era esperado com amor e proclamado com alegria.
No dia em que a bolsa de mamãe rompeu, estava com minha avó Sebastiana. As duas caminharam a pé até o hospital. Papai, em serviço na cidade vizinha, ao chegar em casa e não encontrar ninguém, correu direto para lá. Foi recebido por uma cena inesquecível: os funcionários, reunidos em coro, exclamavam sorridentes — “Marquinhos nasceu!”
E assim, cheguei ao mundo envolto em amor, esperança e festa.
Com menos de quatro anos, aos sábados, papai já me levava consigo ao hospital. Talvez sonhasse que eu seguiria seus passos na Medicina. Mamãe, cúmplice nesse afeto, mandou fazer para mim um pequeno jaleco, igual ao dele, e comprou uma calça branca. Ao chegarmos de mãos dadas, ouvíamos em uníssono: “Boa noite, Dr. Tadeu! Boa noite, Dr. Marquinhos!”
Naqueles instantes, eu me sentia um verdadeiro “doutorzinho”, cheio de orgulho ao lado de meu pai — um homem honrado, querido e amado por todos naquela cidade. E, dentro de mim, ficava a certeza de que aquele amor seria sempre o maior legado que ele poderia me oferecer.
O Pequeno Príncipe
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
O Pequeno Príncipe
Míriam Guzzo
Mais uma vez, você passou em minha vida,
Sorriso doce, elegância no olhar,
Embora, eu quisesse na avenida,
Cantar, cantar, cantar...
Eu tive, oh meu Marcos,
Os olhos cintilantes só de lágrimas,
Sorrindo, a lhe mirar.
Pequeno e loiro príncipe,
No seu porte,
Altivo, inteligente, sem igual,
Eu via bem presente,
A presença de Deus,
Do amor,
Da simpatia,
Só brilho no seu olhar.
E de repente, tudo para,
Nada importa
Importante se torna tão somente,
Seu olhar de carinho,
Inteligente
Que amo, muito, muito!
Picasso Brasileiro
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 x 1,10m
Ano: 2023
Esta obra é uma releitura de Pablo Picasso, o mestre que marcou o século XX com sua genialidade inigualável. Em minhas exposições internacionais, críticos e admiradores nos Estados Unidos e na Europa me reconheceram como o novo Picasso Brasileiro, uma ponte viva entre tradições e novas possibilidades.
Ao unir a força expressiva de Picasso com minha própria visão, nascem cores, formas e sentidos que transcendem fronteiras. Entre o expressionismo, o cubismo e a arte contemporânea, floresce a minha própria linguagem — um estilo que carrega memórias, emoções e a coragem de criar mundos inéditos.
É dessa fusão que surge a arte de Marcos Anthony: não apenas homenagem, mas revolução silenciosa, onde o passado e o presente dialogam, e o impossível da inspiração se torna visível. Assim se revela o novo Picasso Brasileiro — uma criação que voa entre o legado do mestre e a liberdade do sonho.
Amor Sublime
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 x 1,10m
Ano: 2023
Minha mãe foi a brisa primordial que impulsionou minhas velas, a força invisível por trás de cada pincelada. Não apenas me concedeu as asas da liberdade, mas me ensinou a decifrar o poder oculto nas próprias limitações, a transformar cada barreira em trampolim para o infinito.
Foi pela fé inabalável dela que aprendi a tecer sonhos em cores e formas, a dar corpo àquilo que habitava em meu coração antes mesmo de eu conhecer o mundo. As asas que adornam minhas orelhas, eternamente gravadas em minhas obras, são o reflexo das asas que recebi dela, muito antes de meus olhos vislumbrarem a vida.
Quando ela alçou voo e se tornou anjo, nossas asas se entrelaçaram em uma melodia silenciosa que ecoa por toda a minha existência. E é nessa sinfonia etérea que sinto sua presença amorosa, bordando, com mãos invisíveis, a magnífica tapeçaria da minha vida — uma obra que jamais terá fim.
Arte, Estrela do Silêncio
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 2,65 X 3,0m
Ano: 2023
Nasci em Timóteo, a capital do Inox, num entardecer em que o sopro do inverno se misturava ao calor do colo materno. Mamãe sempre contou que cheguei ao mundo no instante mais sublime: o pôr-do-sol, quando o céu se veste de ouro para celebrar a vida.
Meus pais, enamorados da natureza, ensinaram-me a contemplar cada detalhe dela. Meu pai, em especial, tinha uma ternura pelos canários-da-terra, que criava em pequenas gaiolas. Até que, em 1999, ousou sonhar mais alto: idealizou o “Projeto Liberdade”, convidando os timotenses a abrirem as portas das gaiolas e devolverem os pássaros ao céu. Desde então, a cidade se encheu de amarelinhos que, ao entardecer, colorem o centro com seu voo leve, sendo alimentados e admirados por todos — testemunhas vivas de que a liberdade é a mais bela canção.
Aos 18 anos, parti para Belo Horizonte, onde o destino me consagrou como o primeiro arquiteto com deficiência auditiva de Minas Gerais. Mais tarde, minhas asas me levaram além-mar: fui laureado em Nova York, com o segundo lugar em um concurso internacional, e tornei-me o primeiro artista surdo do Brasil a realizar uma exposição individual em terras estrangeiras, no Castelo-Museu Peñafiel, na Espanha.
Hoje, sigo minha trajetória em Brasília, a capital do país, onde continuo a transformar silêncio em arte e a vida em poesia.
Totó
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
Diário escrito pela mãe:
Data: 07/09/1978
Marcos ganhou um coelho, dei-lhe o nome de "Totó", o Marcos ficou apaixonado, pois ele, quando acorda, a primeira coisa diz é Totó. Quando chega da escola vai direto procurá-lo e ao me ver na porta da escola, vai logo me dizendo Totó! Fica com ele o dia todo no colo, lhe dá comida na boca. Vou ter que dá-lo para os outros, porque o coelho vai acabar morrendo. Outro dia, ele levou à escola o Totó, é incrível sua felicidade, quando viu que ele ia poder levá-lo para dentro da escola.
Jardim de Infância
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
Minha mãe costumava dizer que meus melhores professores foram, na verdade, meus coleguinhas de escola. Foram eles que, sem perceber, ajudaram a despertar minha fala. As crianças, puras em sua inocência, não distinguiam entre o surdo e o ouvinte — e, assim, eu me entregava com afinco à arte da comunicação, guiado pela simplicidade do convívio.
Nesta pintura, dou forma à lembrança de uma amiga querida: Lorena Torres Santiago, a Lena de minha infância, companheira de tantos caminhos. Estudamos lado a lado por treze anos, do maternal à oitava série. Partilhávamos não apenas os bancos da escola, mas também as águas da natação, sempre próximos, sempre cúmplices.
Creio que Deus, em Sua infinita bondade, sempre espalha anjos ao nosso redor — e Lena foi um deles. Um sinal de cuidado, um reflexo de amor, lembrando-me, desde cedo, que a vida é feita de encontros que eternizam a presença d’Ele em nós.
Traços Infantis
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,40 x 1,0m
Ano: 2023
Esta obra nasce de um desenho infantil, feito há mais de quarenta anos. A pedido da professora, representei minha família: meus pais e eu.
Minha mãe sempre foi minha musa, uma mulher de força, beleza e graça inigualáveis. Aqui, a retratei com um chapéu alegórico, símbolo da grandiosidade de sua presença e da delicadeza de sua alma.
Meu pai, por sua vez, sempre foi profundamente apaixonado por ela, demonstrando, em cada gesto, a intensidade de seu amor. Juntos, formavam, sem sombra de dúvida, o casal mais feliz que eu já conheci.
Eu sempre os amei e os amarei, porque deles recebi a mais preciosa herança: o amor que transforma, inspira e perpetua, um legado que vive em mim e em cada traço desta obra.
O Desbravar do Silêncio
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,40 x 1,0m
Ano: 2023
Esta obra é um grito silencioso que ecoa: nós, surdos, também podemos sonhar e realizar. Podemos voar pelo mundo, rasgando os céus das limitações, atravessando barreiras que pareciam intransponíveis. Porque dentro de nós habita a força de criar, de resistir e de transformar o silêncio em arte.
Por ter recebido o nome de “novo Picasso brasileiro”, coloquei à esquerda o meu Touro, aquele que nasceu em minhas mãos quando pintei a obra Guernica, em 2017. À direita, reverencio o Touro de Pablo Picasso, o mestre espanhol que, com sua arte, eternizou o sofrimento e a esperança humanas na Guernica original.
Entre os dois, crescem galhos — símbolos vivos da união de dois destinos: o Picasso brasileiro e o Picasso espanhol. Ramas que se entrelaçam, criando uma ponte entre tempos, culturas e silêncios, e que florescem no solo fértil da arte, onde o impossível deixa de existir.
O Voo do Silêncio
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,40 x 1,0m
Ano: 2023
Esta obra celebra a liberdade, o desejo de realizar, a disciplina e a persistência. As barreiras que surgem em nosso caminho não existem para nos deter, mas para nos ensinar as estratégias da sobrevivência e da coragem.
Ela revela que todos nós, surdos, somos capazes de alçar voos — sejam eles grandes ou pequenos — e transformar cada limitação em impulso. As araras-azuis, vibrantes e majestosas, simbolizam essa liberdade: a capacidade de levar a arte pelo mundo e, ao mesmo tempo, trazê-la de volta para o coração, numa eterna dança de ida e volta.
É nesse voo que se revela a essência do ser: existir, persistir, criar, e descobrir que o mundo, assim como a arte, é feito de horizontes que se abrem para aqueles que têm coragem de alçar voo.
Todo Sonho é possível
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
Lembro-me como se o tempo houvesse parado naquele instante… Meus pais haviam partido para pescar nas águas sagradas do São Francisco, e eu, consumido pela saudade, sentia o coração pulsar em cada segundo. Com o vovô Pedro, fui ao ponto de ônibus, esperando o retorno daqueles que davam sentido ao meu mundo.
Quando papai desceu do veículo, o inesperado aconteceu. Em suas mãos, uma gaiola… e dentro dela, um tucano! Um ser de cores impossíveis, de olhar profundo, que parecia ter descido do céu para tocar a terra, para tocar minha alma. Meu coração quase se desfez em êxtase; senti-me flutuando entre sonho e realidade, entre o mundo que eu conhecia e o universo de maravilhas que ele me revelava.
Naquele gesto, compreendi a verdade mais grandiosa que um coração pode aprender: todo sonho é possível, desde que haja fé e coragem para acreditar. Papai ainda não cultivava o pensamento que mais tarde o faria libertar pássaros; naquele dia, no entanto, ele me oferecia algo ainda maior — a promessa de que o amor é capaz de transformar o ordinário em magia, de iluminar a vida com os presentes mais inesperados, arrancados do próprio caminho do destino.
Aquele tucano não era apenas uma ave exótica. Era um portal para a imaginação, um símbolo do infinito que habita em cada coração humano. Era a prova de que a beleza do mundo pode ser tocada, capturada e compartilhada — e que, quando o amor guia nossas mãos, até o impossível se torna possível.
Projeto Pintores
Técnica: óleo sobre telas
Dimensão: 1,50 x 1,10m
Ano: 2023
O Projeto Pintores Marcos Anthony nasceu em 2013, em minha terra natal, Timóteo–MG. Foi ali, em uma escola simples, que vivi o primeiro encontro com crianças que, até então, só conheciam a arte através das páginas dos livros e das biografias de artistas já falecidos. Pela primeira vez, puderam dialogar com a arte viva e com o artista em carne e osso.
O resultado foi arrebatador. Mais que um exercício estético, o projeto revelou-se uma ponte entre cultura e transformação social. Desde cedo, percebo como minha história e minhas pinceladas despertam fascínio nos pequenos, abrindo caminhos de imaginação e esperança. Nas oficinas, crianças e adolescentes não apenas mergulham na pintura, mas também descobrem que cada vida pode ser uma obra em construção.
O impacto é visível: o brilho nos olhos dos alunos, o entusiasmo dos professores, o reconhecimento das escolas que, ao final de cada encontro, testemunham um enriquecimento cultural profundo. O projeto floresceu além de qualquer expectativa, expandindo-se para grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Vitória, e também para cidades que guardam um lugar especial em minha história, como Cotia, Ipatinga, Coronel Fabriciano, Contagem, Nova Lima e Governador Valadares.
De um sonho que começou pequeno, ergueu-se um movimento grandioso. Hoje, o Projeto Pintores Marcos Anthony não é apenas sobre arte: é sobre inspiração, identidade, superação e a certeza de que, quando a semente é lançada no coração de uma criança, ela pode florescer em futuro e eternidade.
E essa história está apenas começando.
"Era uma vez..."
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
O retrato do meu primeiro capítulo é a história de amor entre Tadeu e Conceição, meus amados pais. Vim ao mundo apenas seis meses após o enlace matrimonial — e, para a época, foi um verdadeiro espanto!
Mamãe sempre sonhara em ter um filho; no fundo, desejava eternizar em mim o homem que tanto amava. Queria que eu fosse reflexo fiel de meu pai. Quase fui — faltaram-me apenas os seus belos olhos azuis.
“Ceição”, como papai a chamava com ternura, casou-se levando uma rosa-vermelha nas mãos. E, a cada Dia dos Namorados, que também era o aniversário de casamento, ele a presenteava com um buquê dessa mesma flor ardente. Por isso, as rosas-vermelhas que se entrelaçam nas laterais da obra carregam um símbolo: o amor eterno de meus pais.
Um amor genuíno, que se plantou em meu coração, que me moldou e me ensinou a enxergar além das aparências. Um amor que me fez pequeno diante de mim mesmo, mas imenso na presença amorosa de Deus.
Aquarismo
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2023
O aquarismo foi o cenário encantado da minha infância. Sempre que íamos a São Paulo para o tratamento com a fonoaudióloga, papai trazia de volta pequenos peixes, viajando comigo até Timóteo em frágeis sacolinhas plásticas. Era o jeito que ele encontrava de me estimular a falar — presenteando-me não apenas com peixinhos, mas com mundos inteiros em miniatura.
Recordo-me da ansiedade que me tomava o peito, na pressa de chegar em casa e soltá-los no aquário. Ali, diante daquele pequeno universo de cores em movimento, eu passava horas inteiras, hipnotizado. Os peixes deslizavam suaves, num balé silencioso, e eu, menino sonhador, inventava histórias a partir de cada mergulho e de cada volta.
A cena era tão bela, tão cheia de mistério e paz, que cresceu em mim o desejo de eternizá-la — para que jamais se perdesse na correnteza do tempo.
Como se as águas daquele aquário quisessem se transformar em tela, e cada peixe fosse pincel de uma memória que eu jamais permitiria que o tempo apagasse.
Minha Amada Mãe
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,20m
Ano: 2024
Esta obra nasceu de uma foto minha com minha amada mãe, uma das imagens que mais guardo no coração e que sempre me emociona. Em nossos olhares, está gravado o imenso amor e carinho que nos unia — um amor que transcende a vida, que vai além do tempo e da matéria.
Tive o privilégio de ter uma mãe amorosa, que cuidou de mim com dedicação infinita. Quando ela partiu, pensei que jamais suportaria o silêncio deixado por sua ausência. Mas, à medida que os dias passavam, percebi que ela havia plantado sementes de amor no meu coração. Esse amor cresceu, floresceu e me tornou seguro, lembrando-me constantemente que, mesmo em planos diferentes, nunca estivemos tão juntos.
Existe muito dela em mim: a força que move, o desejo de servir, a alegria de viver. Cada gesto, cada escolha, cada sonho carregam a essência da minha mãe. E é esse amor eterno que continua a guiar minhas mãos, meus passos e minha vida, lembrando-me, sempre, que ela jamais me deixou.
Robin
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,10m
Ano: 2023
Este é Robin, meu fiel companheiro da infância e adolescência. Um Beagle cheio de vida, brincalhão, travesso, com uma alegria que parecia não caber dentro dele. Robin era o retrato da energia em movimento, e, como todo espírito livre, tinha o hábito de roer tudo o que encontrava — especialmente aquilo que não nos pertencia, para espanto dos visitantes.
Naquela época, eu usava aparelhos auditivos atrás das orelhas, e meu irmão mais novo, também surdo, precisava mais do que eu. Papai me pediu que os emprestasse a ele. Um dia, depois de jogar bola no quintal com os amigos, meu irmão, suado, deixou o aparelho no chão. Foi quando Robin, levado como sempre, o encontrou — e, em sua inocência brincalhona, roeu o pequeno objeto como se fosse mais um de seus brinquedos.
Meu coração disparou. O medo me invadiu: e se meus pais descobrissem? E se, em sua irritação, resolvessem doar o meu amigo? Então, escondi o aparelho destruído, tentando proteger Robin como quem protege um segredo sagrado.
Porque, apesar das travessuras, eu sabia que ele não era apenas um cachorro. Robin era parte da minha vida, meu companheiro de silêncio e de descobertas. E, no fundo, mais do que a lembrança de um aparelho roído, ficou em mim a certeza de que o amor sempre encontra um jeito de perdoar as imperfeições — e de guardar para sempre aquilo que realmente importa.
O Recôndito do Silêncio
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,40 x 1,0m
Ano: 2023
No recôndito do silêncio, existem inúmeras possibilidades: se por um lado, existe o desejo de me fechar, esconder, desistir; por outro lado, uma força motriz que me faz vencer minhas lutas cotidianas e continuar alçando voos cada vez mais longínquos! Essa força, indubitavelmente, vem dos meus pais, do amor deles por mim. Ela é alicerçada na persistência, na esperança, na crença e na fé.
"As asas" simbolizam o constante movimento do universo; já os beija-flores simbolizam a persistência, características marcantes em mim. Um dos principais alimentos dos beija-flores é o néctar das flores, eles estão sempre em busca do lado doce da vida. Eles persistem em sua procura, mesmo em meio às dificuldades. Vejo isto como inspiração para as nossas vidas, pois muitas vezes, desistimos de encontrarmos aquilo que desejamos."
O Silêncio Brasileiro
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20 X 1,10m
Ano: 2023
Os papagaios amarelos, em suas cores vivas, carregam o espírito da bandeira do Brasil, e, em cada traço, celebro a pátria e a vida. Pintei suas asas sobre minhas orelhas como um símbolo da minha surdez congênita — uma marca que, longe de limitar, se tornou combustível para voar mais alto.
Acredito que nossas limitações não são muros, mas ventos que nos impulsionam, abrindo caminhos para destinos que antes pareciam impossíveis. Mesmo em silêncio, podemos alçar voos inimagináveis, desenhar horizontes e escrever histórias que ninguém ousaria imaginar.
Se Deus nos permite sonhar, também nos dá o poder de realizar. E é justamente nesse inimaginável divino que encontro minha inspiração — um lugar onde os sonhos ganham asas e a esperança transforma cada limitação em voo, cada desafio em oportunidade, cada vida em arte.
Minha Girafa
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,40 x 1,0m
Ano: 2023
"O Pai vai comprar uma girafa para você!"
Uma das primeiras palavras que aprendi a falar foi girafa. Sempre fui fascinado por esse ser exótico, elegante e distante, que parecia tocar o céu com seu pescoço. Já tive girafas de brinquedo, mas nada se comparava ao encanto de imaginar uma de verdade ao meu lado.
Certa vez, conversando com meu pai sobre girafas, ele me olhou com um sorriso cheio de carinho e prometeu: “Vou comprar uma girafa para você.” Naquela noite, meu coração disparou de alegria, e o sono parecia fugir diante da felicidade. Minha imaginação voou mais longe do que jamais fora: como ela chegaria ao quintal? Pousaria de helicóptero? A porta não era grande o suficiente… Talvez eu precisasse desocupar o viveiro de canários e cortar a tela do teto só para acomodar o pescoço majestoso da girafa.
Pensei que a veria da janela do meu quarto, no segundo pavimento, alimentando-a com cuidado e encantamento. Mil e uma fantasias dançavam na minha mente, e, finalmente, adormeci com um sorriso enorme, acreditando que aquele sonho poderia se tornar real.
E, de certa forma, ele se tornou. No mundo das ideias, na eternidade dos meus sonhos, a girafa chegou — e ainda hoje, ela ilumina e alegra cada cantinho da minha imaginação.
