DEPOIMENTOS
Por Vilma Nöel:
Seduzida pelas pinturas de Marcos Anthony, não pude deixar de expressar a minha grande esperança em sua carreira. Ao passar de cada dia, ele se afirma com virtuosidade, espontaneidade e características fortes e marcantes em sua obra. As chaves dos seus enigmas estão perdidas no fundo do inconsciente de cada um de nós, admiradores de suas mágicas invenções.
Ele inventa sem hesitação, cria o seu mundo dentro de uma poética quimérica, harmoniosa. Já nasceu como "criança índigo" com tudo registrado, preparado na espiritualidade. Criança que consegue ter novas e brilhantes ideias a cada dez segundos.
Apresentou seu trabalho genial desde muito cedo na sua infância, demonstrando sensibilidade extrema, excesso de energia. Entendia-se com facilidade para compensar a sua falta auditiva e consequente expressão verbal. Daí seus métodos próprios de aprendizado, graças ao nível cultural de sua iluminada, esclarecida e abençoada família, tendo assim toda uma estrutura para entendê-lo e deixá-lo se expressar, respeitando-o dentro dos seus limites e abrindo-lhe as portas, incentivando-o para o conhecimento de outros artistas que deram um acento poético à sua pesca original. Porém, ele foi sempre fiel ao que recebeu da sua própria personalidade. Nasceu para brilhar e transformar o seu mundo à sua maneira bem imaginativa, seguindo literalmente sua missão.
E eu desconfio de que ele é visitado, nas horas desconhecidas da noite, por mestres renascentistas, florentinos, expressionistas, cubistas, surrealistas... chegados de tempos remotos para visitá-lo. Foi o amor que lhe ensinou a pintar numa superfície os contornos que ele sentia ou revivia na lembrança de outras vidas, numa dualidade que desafia o artista para se expressar em pinceladas.
Desde a origem, ele mantém compromisso com a atitude poética enquanto fonte geradora de significado e cria cenas instigantes para nossos olhos. Imagens de uma metafísica sutil de enigmas simbólicos, que nos tornam pensativos e que sugerem marcas ligadas à passagem do tempo. Mulheres dançando, mulheres geométricas, cones e cubos, transparência, arabescos, o estampado, molduras, círculos, esferas, símbolos, o barroquismo sensual e gracioso, certos hieróglifos pontilhados, bem delineados, que nos levam analogamente, entre pintura e poesia, traços, demarcações sinuosas de zig zags, enigmas formais e informais, subentendidos, limites evanescentes de um sentimento irrequieto, mostrando que esse artista é um hábil desenhista e excelente colorista...
Documenta o Brasil em forma de sonho mágico, para que tenhamos a oportunidade de rever nossa terra para além de problemas, num caleidoscópio de alegria e esperança, que nos invade e contagia. No conflito entre a cultura de massa e a cultura erudita, entre a produção cultural leiga e a acadêmica, entre a leitura popular e o romance de ponta, entre as técnicas sofisticadas da arte moderna internacionalista e a primitiva, permanentemente criadora da arte popular, está o repositório da temática do Anthony. Tudo isto colaborando para formar o flagrante e nexos, que ele nos entrega, interpretando obras de grandes mestres antepassados e presentes. Existem dois princípios de independentes forças na sua obra: o vital e o mytho-biblical.
Pinta com graça e delicadeza seus santos, tocados da magia poética da sua sensibilidade. Seus personagens evoluem sobre um cenário pictórico numa composição de um xadrez de textura e pontos presentes num conjunto que define um estilo bem próprio. Daí, encontramos uma pureza essencial, constituindo um fenômeno de expressão - antes de expressar entre signos e coreografia de cores e formas - uma razão sem palavras que se remete apenas à sua própria harmonia, designando por contraste a disformidade, a duplicidade, numa sequência rapsódica de cenas dispostas e repetições, sugerindo arcos melódicos, pictóricos que se intercalam e articulam o diálogo entre as suas telas de grande beleza, dinamismo e ritmo.
Elas são espirituais, originais, coloridas e fazem parte da história sem fim da vida humana. Ficamos, de certo modo, possuídos pela energia que delas se desprende. Anthony já acumulou, dentro da sua juventude, uma obra de riqueza expressiva, falando através de sua pintura numa linguagem imediata, intuitiva e simples. Esse conjunto de obras aqui apresentado é um testemunho da diversidade de expressão de Marcos Anthony. Ele nos permite seguir o desenvolvimento deste artista que, para nosso prazer, nos convida a descobrir, ao seu lado, o fabuloso universo da arte que criou.
Vilma Nöel artista/escultura residente em NYC.
Por Rogério Zola Santiago:
Marcos Anthony pinta histórias e obras que são cenas do passado por ele descobertas em livros, museus e - claro, intuições personalistas. Séculos assim ressurgem em nova roupagem, nas pinceladas que formam tecidos e padrões, da Europa medieval ao Brasil colonial - com referências picassianas (as faces múltiplas) - e as divisões de expressão. Em um figurativo contemporâneo, Marcos Anthony vai à Nova Iorque levando na bagagem um Brasil de releituras de impacto.
Mesmo sem a capacidade de ouvir sons do mundo, (o artista é portador de surdez), suas cores falam de uma realidade interior em mosaicos diluídos em tons pastéis que resvalam à policromia. Candelabros, cortinas, mesas do Império e a farsa humana parecem dançar sob a alfaiataria artesanal do pintor artista, que se diverte ao saber o observador envolvido na trama das idades que retrata, numa volúpia de castelos e vestígios históricos, mesas entalhadas e rendas sôfregas.
Formas egípcias e também corpos "naive" (entre o primitivo e o inocente) fazem lembrar as estátuas gregas do período arcaico, (kouros e kóris, respectivamente homens e mulheres de olhos esbugalhados e maquiados à época). Seres que aparecem a caráter, semi-nus, descalços, incásicos e indígenas, em posicionamento quase sem tridimensionalidade, chapando o visual de frente e de lado: faz-se acreditar numa metamorfose entre períodos diversos da evolução social humana, descritos numa barroca e rococó (com alguns enfeites e penduricalhos) interpretação pictórica do mundo.
Rogério Zola Santiago, jornalista e crítico pela Indiana University, USA
Por Oscar D´Ambrosio:
Retratos Diversos pela multiplicidade de suas faces, qualquer representação de Frida Kahlo pode soar reducionista. Nesse aspecto, Marcos Anthony o rosto da artista mexicana sob a perspectiva em que ela é vista de várias maneiras ao mesmo tempo, tanto por uma visão frontal como lateral.
Trata-se de um recurso visual buscar dar conta de um paradigma da arte que pode ser lida como libertação feminina, mas também como símbolo de uma paixão desmedida.
A magia e o encanto da artista estão em ter vivido uma existência regida pelos excessos, tanto do amor, como a dor. Encontrar imagens dela em uma atmosfera tropical, travestida de santa ou identificada como Carmen Miranda são possibilidades de uma vida que se abriu para o mundo e que, por isso, mesmo não pode ser encontrada em caixas, mas multiplicada em retratos, sabores e saberes.
Oscar D´Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.